Carta ao meu pai - Gastão Eduardo Sampaio Braconnot


Pai,

Para dizer que te amo coloquei Bethoveen no cd. A Primavera! e seu piano alegre que me leva àquela noite de lua cheia, chegando à fazenda, no interior do nada, eu, vc, mamãe e Marcelo, todos naquela Caravan...

Ouvi-lo é trazer você aqui, para o meu pertinho. Tantas coisas vindas de você!
O primeiro livro adulto (com apenas onze anos!) - Tender is the night, do Fitzgerald;
Os primeiros concertos de Mozart e Bach ainda na vitrola;
Vinhos, queijos, charuto, flores, peixes, boi, cavalos e pássaros...

Minha primeira contemplação ao vê-lo contemplar o nada silenciosamente...
Era nossa aquela imensidão amarela de pasto sem montanhas!
Tantas coisas em comum!
Tanto aprendizado rico e consistente...
Que sorte a minha.
Que benção.

Toda vez que o vejo saindo da minha casa, olho-o orgulhosa.
A menina em mim se enche de amor e admiração.
Me identifico com seu andar de guerreiro,
de quem matou mais um leão naquele dia e em todos os anteriores também...

Meu querido amigo,
obrigada pelas lindas viagens,
obrigada por todos os mimos, importâncias e desimportâncias.
Sei o quanto fui amada e hoje entendo do tanto que você podia me dar.
Você sempre surpreendente:
O primeiro a desejar boa viagem quando precisei partir.
Sabia deste imenso amor que mora aí e aqui e
que busco sentir todos os dias desta longa jornada.

Te amo.