Está no livro “Festa da
Insignificância”, do Milan Kundera, e é
tão simples. Sempre achei a mais deliciosa desculpa. Sabe quando um
amigo diz que ele (a) não quer você porque tem medo, e destila mil maravilhas
sobre a sua personalidade? Para mim, uma deliciosa razão definitiva para ele
não te querer, mas de repente ficou tão óbvio e jamais percebi com tanta
clareza! Pense bem, entre a opinião e o silêncio o que dá menos trabalho? Pense...
Um diário, uma brincadeira sem pretensão, um lugar meu. Um passatempo nos tempos da modernidade. Flores, cores, detalhes, palavras na rede, ao vento. Quero brincar até o final dos meus dias.
domingo, 27 de setembro de 2015
terça-feira, 15 de setembro de 2015
Carta a mim mesma
Querida Sylvia,
Você é adorável, mas quando quer ser chata, mesquinha,
cri-cri e mal humorada, parabéns, consegue ser das mais bem-sucedidas criaturas
que conheço. Reconheça também que há em você um hábito entranho de se
diminuir. Não deu para ver, a esta altura da vida, o quanto já conquistou?
Meu bem, você passou a infância morando em uma fazenda
longínqua, depois foi morar em Jacarepaguá (subúrbio do Rio de Janeiro) e, veja
só, transita hoje em dia por onde quiser, cria uma filha sozinha – uma criança
adorável aliás, superou medos que só
mesmo você para saber da imensidão de um pânico, tem amigos verdadeiros e uma
bela empresa de comunicação. Ou seja, já percebeu que pode fazer o que quiser,
quando quiser.
Eu sei, eu sei, você vive na cidade grande mas o interior
não sai de você, ainda há muitos medos, a demanda é imensa e de todo lado e, o
mais difícil, encontra-se novamente se perguntando qual será o seu lugar no
mundo. Ora, tenha paciência, não pense. Já passou por isso uma vez quando era
adolescente e se inventou. Vai conseguir de novo.
Te conheço. Suas frases preferidas são:
- - Sal, por favor?
-
Vou fumar um
cigarrinho (e dá aquele sorriso meio que se desculpando por ser um alienígena);
- - Me apaixonei por
Portugal;
- - Olha que
lindo... -, e aponta para algum arranjo
de flor, ou tronco de árvore, ou para um quadro do Modigliani, um prédio lisboeta de
azulejos ou para uma simples xícara de café.
- - Só gosto de praia
se puder sair do quarto e por os pés na areia;
- - Saudades da minha
avó Yedda;
- . Saudades da
loira;
-
Não aguento mais
esta solidão (isto vc não diz por aí).
Viu como te conheço? Tem ainda sua eterna briga com a
balança! Jesus, mulher, se quer emagrecer, mude de profissão e pare de beber
vinhos todos os dias. Se não, melhor aceitar que você come nos melhores
restaurantes e tem a chance de beber bons vinhos, gins e afins, como poucos que
conheço.
Agora voltou com aquele papo de que está cansada;
muito cansada. Que nunca vai encontrar alguém para dividir as contas, as
tarefas cotidianas; que já desistiu de encontrar um
parceiro/companheiro/amigo/homem ideal para compartilhar a vida. Pode parar,
querida. Não tem ninguém porque não quer; porque mais parece uma leoa líder de
bando, porque espera um super-homem entrar pela janela e que ele seja perfeito.
Vê se fica mais quietinha, se mostre como é, como a pessoa frágil que é, fale
menos verdades em qualquer roda e observe mais. Hora de ser pavão é
hora de fechar negócio, e só. Me ouviu bem?
Minha queridíssima, você merece o melhor dessa vida.
Não tem bons amigos à toa. Você é generosa, carinhosa, dá boas gargalhadas e
fala bobagens como ninguém. Relaxe e vai levando.
Já aprendeu tanto, mas tanto. Já está livre de tantas
amarras que te prendiam. Aproveita este Alentejo pelo qual tanto sonhou e
programou; aproveita este espírito livre pelo qual tanto trabalhou na análise e tome mais um gole deste tinto. Mal não vai
fazer e viva o seu momento. Ponto final.
Te amo e sem mais,
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