terça-feira, 18 de março de 2014

Era bela, era feia, poderia ter futuro esta menina

A moça sentada, segurava uma caixa de pizza Domino´s.
Encostada no poste, bem acomodada,
estava no gramado entre duas avenidas.

Devia ter mil anos, mas era apenas moça
mulata, bonita, de top.
Era bela, era feia,
Era miséria para olhos anestesiados.

Podia estar num piquenique,
Aguardando o namorado.
Podia estar saindo da escola no recreio;
Hora do lanche e ela a descansar no parque.

Mas não era parque, era avenida;
Todos de passagem, passariam;
todos de barriga cheia, saciados;
Ela nem via
Nem ninguém queria ver a tal menina.


segunda-feira, 17 de março de 2014

À MODA ANTIGA, FORNO À LENHA, CHARQUE AO SOL

Minha amiga maravilhosamente louca, inadaptável, sacana das melhores, me inspirou com um post típico dela. Dizia: "em tempos de sexo microondas, banho-maria é luxo."

Não entendi muito bem o microondas até sacar que a metáfora é realmente boa. É mesmo como anda o sexo nestes tempos: esquenta rapidinho e come. Amanhã é outro prato, não é, Silvia Pilz? 

Foi quando pensei no amor que eu gostaria de ter e sentir, à moda antiga.

Repondi ao post e agora elaboro:

Te amo como em outros tempos
Fogão à lenha, demorado,
charque ao sol,
cozinhando lentamente, 
no tempo que Deus quiser.
Te amo em brasa enquanto a tarde cai
Cachaça das cinco, cigarro de palha, sem químicos nem erudição
Amor interior, de interior,
sem timer nem luz elétrica.
Te amo como antigamente,
com luz de lampião e silêncio de fazenda.

Cresci lá naquele mundão de Deus tão longe daqui. Escrevia-se cartas então! Maravilha. Saudade do meu ipê amarelo.

No post escrevi:
Te amo como nos velhos tempos, fogão à lenha, demorado, charque ao sol, quente no estômago que cozinha dentro e o sangue, este sangue, dependerá do ponto, de tempo sem timer nem luz elétrica. Lampião e som de fazenda lá fora.

domingo, 16 de março de 2014

Não querer é desejar

I
Sem querer pensar
Vou levando o não pensamento a todo instante.
Não querer é desejar sem parar, sem parar.
Refugo protegida, de mentira.
Avanço no precipício de amar aquele quem,
sem jamais ter tido,
Vou perder.

II
Eu minto.
Minto descaradamente.
Gozo da simulação indiscriminadamente.
Sinto e não digo;
Sou sobrevivente.
Esconder é a única saída e,
guardo tudo tão bem guardado,
tão dentro lá dentro,
que eu, dona do lugar,
já nem consigo achar.
Tudo está onde moram os
contos de minha breve história.
Tão rica e tão pobre;
Tão desimportante e linda; só minha.